Moradores do entorno do antigo terreno da Companhia de Carbono Coloidais, conhecida como CCC, na Rua Santos Dumont, em Madre de Deus correm sérios riscos no local. Um laudo emitido em 2002, pela empresa Hidroplan Hidrogeologia e Planejamento Ambiental, sediada no Estado de São Paulo, recomendou a remoção imediata dos moradores que vivem próximo ao terreno.
A contaminação foi gerada pelo vazamento de compostos organoclorados ao redor de um antigo tanque. Em contato com o solo, solventes halogenados, principalmente hidrocarbonetos clorados, e hidrocarbonetos aromáticos derivados de petróleo, especialmente o benzeno, se espalharam em um raio de 32.074 m², sob as moradias próximas.
A situação foi denunciada pelo Bahia Manchetes no ano passado, a reportagem voltou ao local nesta quinta-feira (18) e ouviu relatos de moradores de que, a prefeitura ainda não se posicionou sobre o assunto. Além do risco de contaminação, eles contam que os imóveis podem desabar por causa do solo que está cedendo. Os moradores acreditam que o problema esteja relacionado a uma empresa que tenta descontaminar o terreno. A população reclama que se sente esquecida pelo poder público.
O morador Edvan Bernardes relata que antes da empresa começar a trabalhar no solo não havia rachaduras nas casas. O imóvel dele é um dos que delimitam o território da antiga empresa.
Ele lembra que depois que o produto começou a corroer o tanque a contaminação se espalhou. O morador ressalta que a prefeitura esqueceu o problema ao que chamou de “irresponsabilidade” do poder público.
“Na certa eles vão deixar um prédio desabar em cima de alguma pessoa para tomar providências”, reclamou. Segundo ele, todos os dias os moradores ouvem o ruído da bomba no solo: “E só rachando e afundando as casas”.
Conforme Edvan, na casa de sua cunhada as paredes estavam afastadas do radier e por causa disso, a residência precisou passar por uma reforma.
“A gente colocou uma esteira de ferro e deu um concreto. Tipo uma Lage. Praticamente, batemos uma Lage dentro da casa dela (no contrapiso), de material a coitada já gastou muito. Só de pedreiro já gastou quase R$ 5 mil. Quero ver quem vai pagar o prejuízo dela né?”, questionou.
A moradora Carine Silva, de 24 anos, relata que a prefeitura ainda não resolveu o problema. Para ela, atitude da prefeitura revela a falta de “empatia” e de “respeito” com a população. Ela conta que os moradores vivem com medo que as casas que foram erguidas próximas ao terreno possam desabar.
“No quarto da minha mãe, o guarda roupa esta inclinado. Não sabemos a hora que pode cair ou que o chão possa ceder. Enquanto eles estão seguros, eles não fazem nada com relação ao que está acontecendo com a gente. Ninguém vem aqui ver, não vem tomar uma posição”.
Segundo ela, os moveis do quarto estão quebrando por causa da falta de nível do piso, disse ainda, que se sente de “mãos e pés atados”. “A gente não sabe o que pode acontecer, A gente não sabe se pode desabar. Meu tio me tranquiliza dizendo que a fundação (da casa) é forte, mas só as mãos de Deus que ajudam a gente”.
Ela foi enfática ao afirmar que espera que a situação seja resolvida, apontando os problemas causados na estrutura do imóvel.
“Desse jeito não da pra ficar, o quarto de minha mãe está inutilizado, as paredes estão se separando do piso e isso não é condição para pessoa viver”, lamentou.
A casa que a família construiu com tanto esforço, chegou a ficar dividida ao meio, com uma parte mais alta do que a outra. As rachaduras atravessam algumas residências e continuam do lado de fora, cortando o matagal e deixando o muro do terreno inclinado. A população classifica a situação como uma “tragédia anunciada”, mesmo sem uma confirmação técnica, eles sinalizam o medo de que os imóveis possam desabar por causa das rachaduras.
O primeiro alerta de contaminação foi dado pelo então Centro de Recursos Ambientais (CRA) (atual Instituto do Meio Ambiente (IMA)), em 2000, levando a demolição de um conjunto habitacional que a prefeitura construiu. Porém, várias famílias vivem próximas ao local desde então.
Com a palavra as autoridades
No ano passado, a ex-prefeita Carmen Gandarela que administrava o município em 2000, período que a contaminação foi identificada, informou que a prefeitura firmou um convênio com a Conder e a Petrobras para construção do Conjunto Habitacional Quitéria. Segundo a ex-gestora, perto de a obra ser finalizada, foi identificado a contaminação na área.
A ex-mandatária contou que a “Petrobras teve que derrubar tudo e arcar com a retirada do entulho”, a prefeitura contratou uma empresa para estudar o solo, e apresentou um laudo que confirmava a contaminação do terreno.
Ainda conforme Carmen, a prefeitura exigiu que a empresa assumisse os danos causados a população. Ela conta ainda, que a empresa iniciou o trabalho de descontaminação, mas desconhece a continuidade de outras gestões.
Na ocasião, o Bahia Manchetes tentou o contato com o prefeito Jeferson Andrade, e com ex-prefeita Eranita de Brito , mas eles não retornaram o contato.
O secretário de meio ambiente, Luís Montal, também foi procurado na época , mas não se posicionou sobre o caso. O espaço está aberto para manifestações.
Seja o primeiro a comentar