Montal pagava R$ 800 para morador de área contaminada em Madre de Deus, diz vereador

Um laudo emitido em 2002 recomendava a remoção urgente dos moradores que viviam próximo ao “terreno da CCC”.

Val diz que Montal pagava R$ 800 para morador de área contaminada em Madre de Deus (Foto: Bahia Manchetes)

O vereador Val Peças (PLS), líder da oposição na Câmara, disse ao Bahia Manchetes  que o secretário municipal de desenvolvimento urbano e meio ambiente, Luís Montal, precisa esclarecer porque ele pagava mensalmente  de R$ 700 à R$ 800 em mãos a um morador da Rua Santos Dumont, localizada próximo a área  conhecida como terreno da CCC, em Madre de Deus, na Região Metropolitana de Salvador.  O parlamentar ressalta ainda que teria ouvido a declaração do próprio morador que recebia o dinheiro.

“Nós iremos se aprofundar nessa questão, porque um morador falou que o secretário de meio ambiente (Luís Montal) pagava na mão dele em torno de R$ 700 à R$ 800 reais por mês, porque uma moradora que é irmã dele, não tinha condição de morar dentro da casa”, disse o parlamentar. “Esse vai ser um fato que a gente vai ter que apurar: porque o secretario de meio ambiente estava dando dinheiro na mão a esse morador?”, questionou o líder da oposição, acrescentando que o povo que mora próximo ao terreno esta “sofrendo pela contaminação e rachaduras nos imóveis”. Segundo o vereador, a oposição pretende instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar o caso.

A contaminação 

Um laudo emitido pela empresa Hidroplan Hidrogeologia e Planejamento Ambiental sediada no Estado de São Paulo, recomendou em 2002, a remoção urgente dos moradores que vivem próximo ao “terreno da CCC”.

A empresa foi contratada para esclarecer a contaminação na área que foi detectado pelo então Centro de Recursos  Ambientais (CRA) (atual Instituto do Meio Ambiente (IMA)), em 2000, levando a demolição de um conjunto habitacional que a prefeitura construiu no local.

Na época, a Hidroplan confirmou a contaminação do terreno que foi gerada pelo vazamento de compostos organoclorados ao redor do antigo tanque da Companhia de Carbono Coloidais (CCC). Em contato com o solo, solventes halogenados, principalmente hidrocarbonetos clorados, e hidrocarbonetos aromáticos derivados de petróleo, especialmente o benzeno, se espalharam em um raio de 32.074 m², sob as moradias próximas. A informação foi divulgada em 2008 pelo jornal A Tarde.

O benzeno é um líquido inflamável, incolor e tem um aroma doce. Composto tóxico, se inalado causa tontura e dores de cabeça. Em pequenas quantidades por longos períodos causam sérios problemas sanguíneos, como leucopenia. Apesar do risco diário deste e de outros produtos  que a população enfrenta na localidade, a reportagem tentou por diversas vezes o contato com o secretário municipal de desenvolvimento urbano e meio ambiente, Luís Montal, mas não obteve retorno. Além do antigo problema de contaminação na região, moradores relatam rachaduras e danos nos imóveis vizinhos ao terreno, incluindo deslocamento de revestimento; fissuras no chão e nas paredes.

Com a palavra os moradores

Quinze anos após o laudo confirmar a contaminação do terreno da CCC e recomendar a remoção de pessoas que viviam próximo ao local, moradores  apontam que os problemas só aumentaram.

“A contaminação desse benzeno ai, na realidade a gente nem percebi. Só vai perceber no decorrer do tempo: as pessoas ficam cansando, com falta de ar e pega as viroses fácil porque a imunidade esta baixa, porque esse produto ai  é cancerígeno. Essa é a grande realidade de nosso dia a dia nesta Rua”, lamenta o morador da Rua Santos Dumont, Ednailton dos Santos, de 52 anos.

Ele ressalta ainda que varias casas vizinhas ao terreno estão com as paredes rachando e o piso esta cedendo: “Você quando entra no quarto parece que vai cair porque o chão esta desnivelado. Tem uma (casa) de uma irmã minha que tá descendo o piso: quando você bate o pé a casa treme toda, os quadros só faltam cair da parede, é horrível”, disse Santos, que completa afirmando que por causa do odor na localidade a família dele “vive a base de remédios” e dispara: “A situação não é boa não! Se não tomar uma providencia essa Rua vai ser devastada”, alertou o morador.

As rachaduras preocupam os moradores, que temem que a estrutura de suas casas seja abalada.

“A minha casa esta cedendo, o quarto da minha mãe já cedeu. Inclusive um pedaço do piso acabou afundando e algumas rachaduras na parede (do quarto) que foi o mais afetado. Antes, ( o cômodo) afetado era a cozinha, e o meu quarto só que a (empresa) Braskem veio há alguns anos atrás reformou todo o piso… E encobriram o problema! Se tivessem resolvido o quarto da minha mãe não teria acontecido o que esta acontecendo agora”, reclamou a  moradora Carine Silva, de 23 anos, que ainda acrescenta que entre os “transtornos”  estão  as “rachaduras” e o piso que esta cedendo”. “ Não sei por quanto tempo a gente vai conseguir manter o quarto ali”, diz Carine que completa afirmando que o odor é  muito forte na região.

“Minha mãe tem um problema respiratório por consequência do cheiro […] Até mesmo uma casa toda fechada não consegue escapar dos problemas causados pelo mau cheiro”.

Ainda conforme Carine, esperança é que a situação seja resolvida, ela destaca que não vai ter ‘dinheiro que paga uma boa  saúde’ e cobra respeito a população:  “A gente espera o mínimo de respeito com a população,  que seja resolvido o mais rápido possível. Porque é um situação que esta se agravando cada vez mais e estão apenas cobrindo o problema: Ninguém faz nada! E as pessoas que estão mais próximas são as mais prejudicadas. Vai esperar a gente morrer?” questiona Carine.

E as autoridades?

A ex-prefeita Carmen Gandarela que administrava o município em 2000, período que a contaminação foi identificada, informou que a prefeitura firmou um convênio com a Conder e a Petrobras para construção do Conjunto Habitacional Quitéria. Segundo a ex-prefeita Carmen, perto de a obra ser finalizada, foi identificado a contaminação na área.

De acordo com a ex-mandatária, a “Petrobras teve q derrubar tudo e arcar com a retirada do entulho”, a prefeitura  contratou uma empresa para estudar o solo, e apresentou um laudo que confirmava a contaminação do terreno.

Ainda conforme a ex-gestora, a prefeitura exigiu que a empresa assumisse os danos causados a população. Ela conta ainda, que a empresa iniciou o trabalho de descontaminação, mas desconhece a continuidade de outras gestões.

O Bahia Manchetes tentou o contato com o prefeito Jeferson Andrade, e com ex-prefeita Eranita de Brito , mas até a publicação desta reportagem não obteve resposta.

Histórico de atualizações

  • em 19/12/2017: as declarações da ex-prefeita Carmen Gandarela foram incluídas no texto.

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