Médico denuncia que levou ‘calote’ do Hospital, chama de ‘golpe’ e diz que a ‘culpa é do gestor’

Segundo ele, "na lista têm mais de 30 médicos que a empresa deu calote" durante o período que administrou o Hospital de Madre de Deus.

Hospital de Madre de Deus diz que providências serão tomadas após denúncia de paciente sobre atendimento

O médico Lucas Rodrigues afirmou que o Hospital Dr. Eduardo Ribeiro Bahiana, em Madre de Deus, está devendo salários desde o ano passado. Segundo ele, os meses de salários que não foram pagos é referente ao período que ele trabalhou na unidade de saúde durante a administração da Associação de Proteção a Maternidade e a Infância de Castro Alves (APMI). Ele também relata que o Instituto de Gestão Saúde e Tecnologia também deixou assuntos pendentes.

“É uma empresa que ela [APMI] já é famosa no meio médico por ser caloteira. Então quando entrou essa empresa, eles entraram e deram esse calote em todos os médicos. Alguns médicos eles estão devendo novembro, dezembro e janeiro, são três meses aí que eles deram calote e essa dívida já tem mais de um ano”, disse em entrevista ao Bahia Manchetes.

“Ninguém da gestão se manifestou, nem prefeito, nem secretário de saúde, ninguém se manifestou sobre esse assunto. Na época, o secretário de saúde interino que era o senhor Igor, chegou a procurar alguns médicos e prometeu que tudo iria ser pago pela prefeitura, que os médicos entrassem com um processo pra que a prefeitura, ela arcasse com essas dívidas”, disse.

Ele completa, afirmando que a prefeitura informou que fez o repasse para APMI, mas o presidente da empresa ao ser procurado pelos médicos disse que a dívida é da prefeitura e ficou neste impasse.

Conforme o médico, a secretária municipal de saúde, Naiara Cardoso, assumiu o cargo, mas ainda não resolveu nada. Para ele, a medicina como qualquer outra profissão merece respeito, disse ainda, que não trabalha apenas por amor a profissão e precisa receber o salário.

“A gente sente falta é disso, é que o gestor, ele resolvesse esse tipo de problema que ele nem se quer procurou a gente pra poder resolver ou saber o que estava acontecendo”, lamenta.

Ainda conforme Dr. Lucas Rodrigues, existem diversos médicos que ficaram sem receber. “Vários médicos sofreram esse mesmo golpe, na lista têm mais de 30 médicos que a empresa [APMI] deu calote”. Ele também ressalta que deixou de estar ao lado da família para trabalhar no município, mas ficou sem receber o que é dele por direito.

O médico contou  que entre os profissionais de saúde, a cidade tem fama de caloteira. “Hoje em vários grupos médicos, ele tá considerado como município mal pagador, que é um município que dá calote em médicos. Então isso impede que bons profissionais médicos entrem na escala da cidade, do hospital municipal porque quem trabalha lá, corre risco de não receber”, declara.

Ele também afirmou que um contador do Instituto de Gestão Saúde e Tecnologia (IGST) que administra o hospital atualmente teria procurado alguns médicos e se apresentou como advogado, mas só depois ficou sabendo que se tratava de um contador.

“Ele pediu para alguns médicos emitirem notas fiscais para poder fazer pagamento […] pagou a alguns colegas. Ele entrou em contato comigo, e pediu que eu emitisse a nota. Como eu quero resolver o problema, eu emitir a nota. Só que quando eu emitir essa nota, eles não me pagaram”, afirma.

O médico declarou ainda que conversou pessoalmente com um dos donos da IGST que o teria informado que conhecia o contador que se apresentou como advogado, e que, o rapaz  estava ajudando o pessoal da APMI a pagar a dívida: “Ele é [funcionário] da IGST e estava ajudando o pessoal da APMI a pagar a dívida dos médicos na gestão da APMI”.

Ele também enfatizou que uma das coisas que causou “estranheza” foi que o administrativo da APMI permaneceu o mesmo.

“A empresa IGST entrou no contrato e manteve todo o pessoal do administrativo, então isso causou muita estranheza pra gente porque  ficou como se mudasse só o nome da empresa”, lembra.

Dr. Lucas afirmou que trabalhou pela nova empresa por um mês, disse ainda, que os pagamentos começaram a atrasar e por causa disso resolveu deixar a unidade.

“O médico que trabalha por exemplo em janeiro, ele só vai receber metade do salário no dia 25 do mês de fevereiro, e a outra metade no dia 5 de março. Atualmente, eles pagam assim. O que eu achei um absurdo”, diz.

Ele relata ainda que entrou numa sociedade com colegas que tinham uma empresa de laboratório, e que, prestou Serviços ao Hospital por cerca de 7 ou 8 meses, durante a gestão da IGST, mas nenhum dos meses foi pago.

“A nossa empresa como não tinha recebido nota nenhuma, quis tirar os equipamentos de lá. Eles não deixaram a gente retirar os equipamentos e a gente teve que entrar na justiça com processo, fazer um boletim de ocorrência pra poder tirar esses equipamentos de lá. Então fizeram acordos com a gente para dividir e parcelar a dívida, nunca nenhum acordo desse foi cumprido”, disse, acrescentando que pagaram a fornecedores, mas ficaram no prejuízo,  “é realmente muito difícil de trabalhar lá” no Hospital.

Ele continua: “Quem sofre com isso é a população porque eram poucos os políticos que eu via lá no Hospital sendo atendido, porque o político quando ele está doente, quando o familiar tá doente, eles vão correr para os planos de saúde dele”.

O médico destaca que a população carente precisa que serviços públicos como “laboratório” e “medicamentos” funcionem corretamente.

“Isso é o que mais me deixa revoltado porque eu nunca descontei na população, nem em ninguém porque isso não é da minha índole tratar mal às pessoas. Eu tava ali, 3 meses sem receber, 4 meses sem receber, 3 meses que tomei calote e nunca tratei mal ninguém porque ninguém merece”, diz.

Dr. Lucas enfatiza que “quem tem culpa é o gestor e a gestão que tem culpa do médico não receber , então é isso que mais me deixa indignado”.

“O que eu via lá no Hospital era isso, eram fornecedores, a empresa de segurança sem receber, querendo fazer protesto, querendo sair de lá do Hospital, a empresa de alimentação, diversas vezes ficou lá sem o café da manhã por protesto que eles não estavam pagando. O que a gente via era isso, era uma gestão totalmente despreparada, eram pessoas que não estão preocupadas nem um pouco com saúde da população”, asseverou.

O espaço está aberto para a direção do Hospital se manifestar sobre o caso.

 

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