15 meses após impeachment: Deputados que derrubaram Dilma; salvam Temer

Na última pesquisa Datafolha 49% dos brasileiros, quase a metade da população, declarou ter vergonha do país.

Maioria da Câmara vota contra a investigação de Temer, enquanto alguns opositores protestam contra o Governo. EVARISTO SA AFP

Os mesmos deputados que deram sinal verde para derrubar  a ex-presidente Dilma Rousseff  por maquiar as contas públicas, há 15 meses, salvaram nesta quarta-feira o seu sucessor, Michel Temer, de uma denúncia do Ministério Público por suposto recebimento de propina. A aliança de centro-direita que em abril de 2016 acabou com 13 anos de Governo do esquerdista PT conseguiu os apoios necessários para impedir que o Supremo Tribunal Federal analisasse o caso que poderia afastá-lo do cargo por até seis meses. Numa conturbada sessão da Câmara dos Deputados, Temer conseguiu 263 votos, bem que os 172 mínimos necessários para enterrar a ação judicial.

Temer e seus aliados utilizaram  até o último minuto todas as armas para frear possíveis deserções e garantir a continuidade do Governo, ainda que a oposição, que marcou 227 votos no placar, jamais tenha chegado perto de conseguir os 342 votos necessários dos 513 possíveis  Poucos, como Temer, conhecem as artimanhas para captar apoios na política brasileira. Não é à toa que ele presidiu a Câmara em três ocasiões e atuou como um dos homens fortes do PMDB, especialista em selar pactos com Deus e depois com o Diabo, capaz de se aliar durante anos com o PT para depois, repentinamente, transformar-se em seu algoz.

Os esforços de Temer se prolongaram até poucas horas antes da votação: incluíram distribuição de cargos a deputados até reuniões com o nutrido lobby parlamentar dos latifundiários. O Governo – numa manobra não tão incomum – chegou a exonerar 10 ministros temporariamente de seus cargos para que pudessem participar da votação na Câmara. E sempre deixou pairando no ar a situação de dezenas de deputados, que vivem com a ameaça de acabar algum dia na prisão também por práticas corruptas. O que não impediu que representantes de partidos igualmente envolvidos nos escândalos se atacassem mutuamente com termos como “ladrões” e “bando de criminosos”. O presidente sofreu algumas deserções, como a parte de um dos principais aliados do Governo, o PSDB, que recomendou que seus congressistas – embora sem caráter obrigatório – votassem a favor da denúncia. Mas Temer conseguiu desviar de todos os obstáculos.

Há 15 meses, quando se debatia o impeachment de Dilma Rousseff, milhares de pessoas protestavam na imensa esplanada diante do edifício do Congresso. Embora os índices de rejeição de Temer batam novos recordes, desta vez havia um único manifestante, um homem que há muito tempo percorre o país imitando a figura de Cristo na cruz. A falta de resposta das ruas facilitou a situação para aliados de Temer. A bandeira do patriotismo serviu-lhes no ano passado para derrubar Dilma e voltou a servir-lhes contra as evidências encontradas pelo procurador-geral, Rodrigo Janot, e a polícia de que o presidente, através de um intermediário, acordou o pagamento de subornos com um dos homens mais ricos do país, o magnata da JBS, Joesley Batista. A queda de Temer – alegaram seus defensores, um depois do outro – comprometeria a incipiente recuperação econômica e o programa de reformas liberais, além de afundar ainda mais o país na instabilidade política. “O Brasil está acima de tudo”, repetiram. Apesar das exortações, o placar obtido por Temer não é animador para a reforma. Esse tipo de projeto, como as mudanças previdenciárias, precisa de 308 votos na Câmara, mais do que os apoios diretos, que foram 264, além de 19 ausências e duas abstenções. Seja como for, os argumentos não conseguiram sufocar as queixas de deputados como o pernambucano Silvio Costa (PTdoB): “Não percebem que estamos oficializando a corrupção?”. Com informações do El País.

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