Disputa pela presidência em 2018: política brasileira ou ‘Game of thrones’?

Por Natália Lambert e Paulo de Tarso Lyra / Via Correio Brasiliense

Arte CB/ DA Press / Via Correio Brasiliense

Se o inverno já chegou, abrindo a guerra explícita pelo Trono de Ferro na sétima temporada de Game of Thrones, os dilúvios e terremotos da crise política de Brasília anteciparam, em 15 meses, a batalha pela cadeira principal do Planalto, ocupada por dois presidentes diferentes — Dilma e Temer — nos últimos dois anos e meio. Com naturalidade, candidatos se apresentam, testam a receptividade do nome nas ruas e nas redes sociais e partidos se preparam para uma batalha esperada desde a vitória da ex-presidente Dilma Rousseff nas urnas em 2014. Na opinião de especialistas, a sucessão de fatos que assola a política do país e o clima de incertezas dá às próximas eleições o peso da esperança. E quem quiser sobreviver que empunhe as armas, proteja a cabeça das adagas de inimigos e vá à caça de votos.

Com as principais legendas do país afundadas em escândalos de corrupção e o descontentamento da população com a classe política em geral, a tendência é de que o pleito do ano que vem se assemelhe ao de 1989. Se, na época, a inflação era incontrolável, hoje o desemprego tira o sono das pessoas. O número de candidatos à presidência deve passar de uma dezena, já que a maioria das siglas vê no momento a oportunidade de se prospectar nacionalmente. “O rei está nu. O PSDB, o PT e o PMDB têm muitos nomes envolvidos em escândalos de corrupção. Aquela base que perdurou por muitos anos ruiu. O que vai vir depois disso ninguém sabe. O sentimento de renovação é muito grande. Mas será que vai surgir alguém que conseguirá carregar essa coroa?”, questiona o professor de ciência política da PUC-RJ Ricardo Esmael.

Só que, acostumados com o poder, os grandes partidos brasileiros não estão dispostos a baixar a guarda. Com a possibilidade de carregarem o título de salvador da pátria, os reis se digladiam para chegar ao trono. Nos clãs mais à esquerda no campo de batalha, o PT enaltece o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como candidato, mas as complicações jurídicas que envolvem o petista deixam até seguidores fiéis inseguros. Para alguns integrantes do partido, o investimento já deveria ser feito em outro nome, por exemplo, o do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad.

Ao lado da família petista, o PDT defende a candidatura do ex-presidente, mas garante que não fará parte desta aliança. Segundo o presidente da sigla, Carlos Lupi, o nome que estará na urna pelo partido é do ex-governador do Ceará Ciro Gomes. “O país precisa de uma pessoa de opinião, e ninguém melhor do que o Ciro. Ele não tem medo de falar o que pensa e enfrentar o empresariado. Ele é o nosso candidato”, comentou em recente entrevista o Correio. Mais à esquerda, partidos como PSol e PCdoB também tendem a apresentar os próprios nomes em vez de se renderem aos encantos petistas. Candidata nas últimas eleições pelo PSol, Luciana Genro já começa a se movimentar nas redes sociais.

Nas tribos do centro, a euforia toma conta. Com a expectativa de uma boa colheita, os clãs se unem para dominar territórios. O apoio do chamado centrão ao DEM, na figura do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), aumenta a cada dia. O partido, com a expectativa de poder em torno do carioca, lançou o nome dele também à disputa ao Planalto. Antes, o candidato seria o do senador Ronaldo Caiado (GO). A legenda está disposta a se colocar como uma possibilidade, e a briga interna ficarão para ser decidida no momento do registro.

Exércitos

À direita do território, o PSDB ainda se recupera da queda de um dos seus lordes e negocia internamente os nomes para o ano que vem. A disputa é entre a tradição do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o inusitado prefeito paulista João Doria. Claramente divididos, os tucanos, como de costume, passam horas em torno de mesas ovais em verdadeiras terapias grupais para chegar a uma conclusão. A promessa é de ela que venha até o início do ano que vem.

No lado extremo direito do mapa, encontra-se um guerreiro solitário em busca de um exército reacionário que o abrigue. Radical e fã de controvérsias, o deputado Jair Bolsonaro dispara nas pesquisas de intenção de voto, mas não está garantido. Atualmente no PSC, já ouviu da legenda que o máximo que será oferecido a ele é uma vaga no Senado. “A gente precisa de alguém que una, que viva o partido”, comenta um integrante que prefere não se identificar. E o nome do atual presidente do INSS, Leonardo de Melo Gadelha, vem crescendo entre as apostas. Já Bolsonaro pretende se mudar para o Muda Brasil, sigla que aguarda registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “Bolsonaro é um nome em evidência, de posições complicadas, mas tem lá suas virtudes. Não queremos radical nem de esquerda, nem de direita. Queremos ser um partido de propostas e vamos conversar para achar um ponto de equilíbrio”, afirma o presidente do Muda Brasil, José Renato da Silva.

Desejos

Nome consagrado no clã de parte dos ambientalistas, a ex-senadora Marina Silva busca um companheiro de chapa e, diante de uma postura reticente do ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, o pêndulo caminha para o também ex-ministro Carlos Ayres Britto. E, na onda do presidente norte-americano, Donald Trump, há espaço para os chamados outsiders, que nunca se envolveram com a política, como os apresentadores de televisão Luciano Huck e Roberto Justus. “Há uma antecipação das eleições, mas é difícil entender aonde podemos chegar, porque nenhum deles é um candidato verdadeiro. Não há registro. É um clima mais fruto do desejo coletivo de antecipação, da esperança das pessoas de que 2018 mudará o país”, comenta o professor da Universidade de Brasília Ricardo Caldas.

Clima de renovação

Em 1989, o país sofria com uma inflação fora do comum, vinha do governo do então vice-presidente José Sarney, que assumiu após a morte de Tancredo Neves, e ainda amargava resquícios do regime militar. Na época, 22 candidatos se lançaram à Presidência da República, destes, pelo menos, seis considerados com chances. Ao fim, foram ao segundo turno Fernando Collor (do então PRN) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de legendas novas no cenário nacional, e derrubando medalhões como Ulysses Guimarães (PMDB), Leonel Brizola (PDT) e Mário Covas (PSDB).

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