A família do soldado da Polícia Militar que morreu após ser baleado em Camaçari, cidade da região metropolitana de Salvador, na semana passada, disse ao G1, nesta terça-feira (15), que ele foi morto por colegas da PM que fazem parte de um esquema de grilagem de terras no município. Um colega do soldado, que era ex-fuzileiro naval, também morreu após ser baleado na ação.
“A informação que recebemos é que os dois militares que atiraram em ítalo e em Cléverson comandam esquema de grilagem de terra. Eles fazem parte disso. Segundo informações recebidas de outras pessoas, que também foram vítimas deles [PM’s], eles fazem isso há muito tempo”, disse um parente do soldado, que prefere não se identificar.
O crime ocorreu na manhã de sexta-feira (11), na Estrada Velha, que liga a localidade de Monte Gordo a Barra de Jacuípe. O soldado foi identificado como Ítalo de Andrade Pessoa, 27 anos.
A família de Ítalo disse que a outra vítima era Cléverson Santos Ribeiro, que era amigo do soldado. Ele chegou a ser socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e levado para o Hospital Geral de Camaçari (HGC), mas não resistiu aos ferimentos após passar por cirurgia.
O crime é investigado pela Polícia Civil. Em nota, a PM informou que “iniciou uma apuração dessas denúncias sobre conduta irregular de integrantes da tropa, e que as atualizações sobre a apuração serão passadas posteriormente, para não atrapalhar as investigações”.
Ainda de acordo com os familiares, tudo ocorreu depois que o soldado foi chamado por Cléverson para ir até o Condomínio Morada de Jacuípe, onde o ex-fuzileiro tinha comprado um terreno, recentemente, com o dinheiro da venda de um carro. Uma terceira pessoa também foi ao local com os dois homens e presenciou o crime. A testemunha não ficou ferida e já foi ouvida pela Polícia Civil.
“A informação que temos é esta. Cléverson chamou Ítalo para ver um terreno que comprou em Camaçari. Eles eram amigos e, por isso, Cléverson chamou ítalo para ir té o local. Eles andavam juntos”, disse o familiar do soldado.
Ainda segundo a família do policial, ao chegarem no condomínio, os três foram recepcionados pelo antigo proprietário do terreno que teria alegado que o local estava sendo habitado por um outro homem, após ser invadido por milicianos.
“Quando eles chegaram ao local, o antigo proprietário do imóvel disse que o terreno tinha sido tomado pela milícia, e que a milícia tinha colocado um homem para morar no local, para tomar conta e ficar lá”, contou.
Já no terreno, eles, então, foram recebidos pelo invasor, que comunicou que estava pagando o aluguel da residência.
“Esse homem disse que estava pagando o aluguel para a filha do antigo proprietário, só que a mulher não tem boa relação com o pai. Ela é suspeita de integrar a milícia junto com os policiais. Ele recepcionou os três bens. Os três ficaram no terreno, eles não chegaram a entrar na casa”, detalhou o parente de Ítalo.
Em seguida, ainda com os três no terreno, o suposto invasor fez uma ligação. Pouco tempo depois, seis homens chegaram no local, entre eles, segundo os familiares de Ítalo, um soldado reformado e um sargento da PM. De acordo com a família do soldado morto, os suspeitos do crime comandam grilagens de terra em Arembepe, Barra de Jacuípe, Vila de Abrantes, todas essas localidades em Camaçari, e Simões Filho, cidade também da região metropolitana.
“Eles entram com arma em punho. Eles se identificaram como policiais. Nesse momento, Ítalo também se identificou como policial. Ele foi questionado se estava armado. Ele levantou o braço, gesticulando, e disse ‘sou policial, claro que estou armado’. Daí, os dois efetuaram os disparos. Não teve tempo de reação. Tanto Ítalo, quanto Cléverson foram baleados.
Ainda conforme a família do soldado, mesmo após a chegada da 59ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM) no local, os homens não foram presos. Além disso, tanto o soldado quanto o ex-fuzileiro foram arrastados para dentro de um imóvel, “onde maquiaram o cenário, cortando cadeados e colocando a identificação de policial de Ítalo, que estava com ele, dentro do carro, para dar a entender que eles não sabiam que era um PM”.
“Quando a companhia chegou, os dois foram arrastados para dentro do imóvel. Eles chegaram e os dois que efetuaram os disparos ainda estavam no local. A gente não sabe o motivo dos dois não terem sido presos. Isso que a gente quer saber. Eles não prestaram socorro e não prenderam eles. A gente quer saber o porquê disso”, questionou o parente do soldado.
Ítalo atuava na PM e trabalhava no 14ª Companhia (Lobato), há dois anos. Ele foi enterrado no cemitério Bosque da Paz, na tarde de domingo (13). O policial deixou uma filha de um ano. Não foram divulgados detalhes sobre o amigo do PM que também foi morto na ação.
/Via G1
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