O vice-presidente, general Hamilton Mourão, disse, nesta terça-feira (14/4) que o novo coronavírus está sendo politizado no Brasil, fruto da polarização, mas que isso também ocorre em outros países. Em videoconferência, afirmou que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, “cruzou a linha da bola”, cometendo uma falta grave (no pólo, jogo praticado pelo vice-presidente) durante a entrevista que concedeu no domingo, quando disse que “o povo não sabe se escuta o presidente Jair Bolsonaro ou o ministro da Saúde”. “Ele não precisava ter dito algumas coisas”, destacou. No entanto, Mourão opinou que ele não deve sair. “Existe muita especulação e o presidente não deve trocar o ministro agora”, disse.
O general rechaçou que a ala militar tenha tido influência na manutenção de Mandetta no cargo. “Tem sido nossa grande preocupação separar as Forças Armadas dos elementos militares que fazem parte do governo. Nenhum comandante fica dando apoio expresso ao governo, porém cumpre sua missão, como irá cumprir com relação a qualquer governo”, destacou.
“Ala militar foi um figura militar criada por parte da imprensa. O que existe são ministros militares. O general Heleno, do GSI, ocupa um cargo tradicional do Exército. Então, no Planalto, tem mais dois ali onde não havia militares e eu, que fui eleito junto com o presidente. No caso do ministro Mandetta, está sendo considerado muito bom, agora, então, capitaneado pelo ministro Braga Netto (Casa Civil), porque precisa de um coordenador. A questão envolve vários ministérios, Cidadania, Relações Exteriores”, disse.
“Não será favorável nessa hora (a troca). Avaliando a situação e o trabalho do Mandetta cabe muito mais uma conversa, chamar e acertar a passada, e discutir intramuros e não via imprensa. Eu não estava na conversa que tiveram (Bolsonaro e Mandetta) na semana passada. Todo mundo diz que existe um anão embaixo da mesa do presidente. Então, a não ser o anão tenha ouvido alguma coisa…”, brincou.
Mourão, entretanto, negou que tenha havido entrevero na reunião ministerial da semana passada. “Ele abriu a reunião em relação a todo o ministério, sobre a necessidade para uma maior coordenação. Quando chegou a hora do Mandetta falar, ele apresentou suas ponderações sobre a situação, a coisa transcorreu num nível de serenidade e lealdade. Não houve essa briga.”
Isolamento
Ao ser questionado sobre qual forma de isolamento acha melhor, se a horizontal, proposta por Mandetta, ou a vertical, defendida pelo presidente, Mourão respondeu que prefere o isolamento inteligente. “A realidade é que temos que buscar os dados concretos para conhecer a real situação que está sendo enfrentada. Na minha opinião, o que está ocorrendo, apesar de não termos exata dimensão por falta de testes, é que a curva vem sendo controlada e colocada de forma amena para realidade do nosso país”, destacou.
“Para buscar um isolamento inteligente, precisamos ter uma testagem maior a fim de definir grupos onde há risco ou onde é menor. O presidente tem chamado a atenção para isso, temos que olhar mais para as ações do que as palavras”, sustentou. Segundo Mourão, apenas 500 municípios, de 5,5 mil, têm grande incidência de contaminados. “Poderíamos isolar áreas não contaminadas e elas poderiam operar normalmente. Com medidas mais restritivas nas áreas onde há mais infectados. Essa avaliação ainda não ocorre”, disse.
Defesa
Por mais de 40 minutos, Mourão falou sobre coronavírus, Amazônia, polarização, fake news e as divergências entre o ministro da Saúde, alguns governadores e o presidente Jair Bolsonaro. Em nenhum momento, contudo, foi contundente contra o chefe do Executivo. Pelo contrário. Citou o 36º presidente norte-americano, Lyndon Johnson, para justificar algumas atitudes de Bolsonaro. “O vírus está sendo politizado, em outros países e aqui no Brasil, fruto da polarização. Eu não critico governador A ou governador B. Mas Lyndon Johnson, que lutou de todas as formas em passar a legislação específica para cidadania aos negros americanos, disse uma coisa certa: se o homem não pode implementar o que acha correto na presidência para que ser presidente?”.
Mourão defendeu Bolsonaro ao dizer que o presidente mostra, desde o início, uma preocupação com a população desassistida, àquela em que o Estado tem mais dificuldade de chegar. E criticou as carreatas de domingo. “As pessoas que vão às ruas — estamos há um mês com a turma confinada — eu chamo de isolamento zona sul. Pessoal cujo salário não foi afetado e recebe comida por delivery dos melhores restaurantes. Essa turma está incomodada e executou seu direito de se expressar. Mas não foram (carreatas) expressivas. A favela não foi protestar.”
Três curvas
O general Mourão ressaltou que o país precisa buscar equilíbrio para enfrentar três curvas. “Temos a curva da doença, que precisamos manter num nível em que nossos sistema de saúde possam tratar os casos graves, a curva do PIB (Produto Interno Bruto), que temos de buscar manter no nível mais aceitável possível, e a curva do emprego”, enumerou. “Grande parte dos brasileiros está na informalidade e precisamos visualizar uma retomada mais forte a partir do momento em que ultrapassarmos o pico da pandemia. Eu julgo que o governo terá que ter papel preponderante — vamos nos endividar mais –, porque a construção civil será ponto importante para empregar a massa fora do mercado e dar o empurrão necessário à economia”, disse.Com informações do Correio Braziliense.
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