1ª narradora do Brasil volta à TV após 19 anos

Quando é mulher narrando, se concentram nela, esperando que erre.

© Arquivo pessoal Luciana Mariano foi a primeira narradora de futebol da TV brasileira

Aos 21 anos, em Setembro de 1997, Luciana Mariano fazia história e estreava como primeira narradora de futebol da televisão brasileira, pela Bandeirantes, no Torneio Primavera, uma espécie de Rio-São Paulo do futebol feminino. A paulista de Jundiaí acumulou cerca de 40 jogos a sua experiência e agora, 19 anos depois da última vez que gritou ‘gol’, voltará a narrar. O microfone será dela nesta quinta-feira, Dia Internacional da Mulher, em RB Leipzig x Zenit, às 17h, na ESPN, pelas oitavas de final da Europa League.

“Narrar futebol foi o maior desafio que já enfrentei até hoje. Eu não tinha nenhuma referência de mulher narradora na TV. Eu não tinha para quem olhar. Quem vou imitar? Na dúvida, no começo, você imita alguém até criar um estilo próprio. Todos os meus exemplos eram masculinos. E agora, quero oferecer o que eu não tive”, disse ao espnW.

Àquela época, seu exemplo máximo era Zuleide Ranieri, primeira narradora de futebol do País em rádio. Sem intimidade com o mundo esportivo, Luciana entrou em campo por acaso numa partida em sua cidade, como capitã de um dos times. Depois do apito final, foi abordada por uma rádio, que se rendeu a sua voz imponente.

Foi aí que tudo começou. Passou dois anos na Rádio Difusora, fazendo um quadro em que entrevistava torcedores e também se arriscou como repórter de campo. Então, Regiane Ritter, uma das mulheres precursoras no esporte, a convidou para trabalhar na Rádio Gazeta. Já com DRT (registro profissional), entrou para a Bandeirantes e passou a dividir seus dias com Luciano do Valle.

E então, veio a oportunidade de narrar. “Havia um movimento para que mulheres fizessem mais parte do esporte. Mas nós não pensávamos nisso. Só queríamos trabalhar. Foi então que o Mauro Beting me ligou para falar sobre um concurso da Band para encontrar uma narradora. O prêmio me ajudaria a quitar meu carro e pensei ‘tenho que ganhar de qualquer jeito’.”

Luciana gravou algumas jogadas num estúdio e seu talento fez com que a competição fosse encerrada antes da hora, por decidirem que ela era hors concours. Venceu e foi contratada para narrar ao vivo o Torneio da Primavera.

“Era diferente de tudo. Fiquei muito nervosa. Quando nos conhecemos, o Luciano (do Valle) falou: ‘você vai ser a primeira mulher a narrar futebol na TV neste país’. Mas nem dei bola. Para mim, ele estava viajando. O que me marcou muito foi chegar na emissora e ver, na escala, escrito ‘narrador’; porque era mesma ficha que sempre usavam. Senti o peso de que nunca uma mulher tinha feito aquilo.”

Ao seu lado, tinha Rivelino como comentarista. “O Luciano dizia uma coisa: quando homem vai narrar, é comum, prestam atenção no jogo. Quando é mulher narrando, se concentram nela, esperando que erre. E vai errar. Igual homens erram, mas aí, ninguém nota. Eu estava com medo de confundir nomes. E aí, descobri a magia de ter um comentarista. Eu tinha minha escalação no papel e o Rivelino colocava o dedo em cima da jogadora que tinha feito o gol. Me ajudou muito”, contou.

Ela narrou alguns amistosos da seleção brasileira feminina, começou a namorar Luciano do Valle, e os dois se mudaram para Porto de Galinhas (PE). Então, a dupla montou uma equipe para transmitir o Campeonato Pernambucano masculino da primeira divisão. E em 1999, Luciana entrou para a história novamente. Com medo das reações, encomendaram uma pesquisa para saber a opinião pública.

“Quando estamos no futebol feminino, é ok, mulher com mulher. Quando entramos num campo 99,9% dominados por homens, especialmente na narração, muda. Mas surpreendentemente, começamos a dar primeiro lugar na audiência. Era a primeira vez que o campeonato conseguia isso. E ninguém se incomodou ou julgou. Pelo contrário. O retorno foi superpositivo. Os números foram ótimos e atingimos os objetivos. Só não continuamos por compraram os direitos de transmissão.”

Luciana narrou todo o Campeonato Pernambucano. No ano seguinte, foi convidada para ser apresentadora oficial da Bandeirantes na Olimpíada de Sidney-2000. Do estúdio, conduzia a programação diária da emissora no maior evento esportivo do mundo.Com informações da  ESPN.

 

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*