‘Sempre acreditei’, diz ex-doméstica que passou na OAB e sonha em ser juíza

Advogada de 30 anos lembra que era humilhada por patrões e quis mudar de vida.

Maria Aloísia ao lado da casa da mãe no sítio em Valença, na bahia (Foto: Arquivo Pessoal)

A esperança de transformar a vida profissional fez com que a advogada Maria Aloísia Jesus dos Santos, de 30 anos, conciliasse o trabalho de doméstica, que conhece desde a infância, com a faculdade de Direito. Mesmo sem qualquer incentivo familiar para estudar, a jovem da zona rural de Valença, no Baixo Sul da Bahia, não desistiu do sonho. Ela, que mora em Salvador, jamais perdeu uma matéria no período da graduação, e após cinco anos, tempo do curso de Direito, conquistou a tão sonhada formatura na quarta-feira (26).

Aluna dedicada, após madrugadas em claro, Maria estreou no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em fevereiro deste ano e foi aprovada. Ela conta que intensificou os estudos quando soube que poderia fazer o exame antes mesmo de se formar.“Criei uma meta, comprei vários cadernos e comecei a estudar nas madrugadas”, contou. Apesar da conclusão do curso de Direito e da realização profissional, o sonho dela não para. Seu desejo é ser juíza.

Sobre a escolha da profissão, Maria conta que teve a ajuda de testes vocacionais, mas o que contou mesmo foi saber que poderia ajudar as pessoas através da carreira que decidiu seguir. “O Direito é uma profissão bonita, eu vou servir à sociedade e nela [a carreira] vi exemplos de mulheres que me motivaram, como Luislinda Valois, que foi a primeira juíza negra do país. Se ela conseguiu, por que eu não conseguiria também?”, argumenta.

Superação 

Após conseguir 100% do financiamento, ingressar na faculdade e com sonho realizado, os desafios de Maria aumentaram. O trabalho de serviços gerais na empresa fazia com que ela perdesse muito tempo e o rendimento na faculdade começou a cair.

“Fui até a empresa e contei a situação. Mostrei que queria estudar direito e o comprovante das notas baixas. Então eles me removeram do shopping e me colocaram em um banco. Aí já deu para estudar mais [na faculdade] porque o banco é menor, funciona em tempo mais curto que o shopping e lá eu me sentia menos cansada”.

Em junho de 2015 a estudante deixou o emprego para procurar um estágio – mas não poderia sobreviver somente com o salário do estágio, voltou a fazer faxinas. “Eu ia para o estágio de segunda a sexta-feira e fazia diárias nos finais de semana”.

Após passar na OAB, cerca de dois meses antes da formatura, a bolsa-estágio de Maria Aloísia aumentou e ela pôde deixar as diárias. Agora o foco é a vida profissional. “Sei que o caminho vai ser longo, estou só começando, mas não vou desistir e um dia serei juíza. Só não sei de que área ainda”.

“Escolhi estudar porque sabia que seria um desafio para mim e eu gosto de desafios. Eu sempre acreditei que era possível, mas hoje eu sei. Eu vivo isso. Um dia desses, eu era semianalfabeta. Eu vejo que tudo é possível. Sou feliz e realizada. A razão de contar minha história é mostrar para as pessoas que elas não devem desistir”, relata. Com  informações do G1.

Casa da mãe de Aloísia na Bahia, onde ela morou antes de deixar Valença com destino à Salvador (Foto: Arquivo Pessoal)

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