Segundo dia de cerco à Rocinha tem três traficantes mortos e menino ferido

Entre os presos está o traficante Luiz Alberto Santos de Moura, conhecido como Bob do Caju.

Intenso tiroteio na Rocinha deixa o Rio em estado de guerra Via HuffPost Brasil

RIO/SÃO PAULO – Um dia depois do cerco feito por 950 homens das Forças Armadas à Rocinha, três traficantes foram mortos e dez foram presos em ações policiais e militares ao longo deste sábado, 23. Dezonove fuzis foram apreendidos, além de nove granadas e uma quantidade não divulgada de drogas. Em pelo menos duas ocasiões, criminosos armados tentaram entrar na Rocinha em carros sequestrados, o que resultou em confronto com as forças de segurança. Pelo menos quatro desses suspeitos conseguiram escapar. A Polícia afirma que um deles seria o traficante Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, tentando voltar à favela.

Entre os presos está o traficante Luiz Alberto Santos de Moura, conhecido como Bob do Caju, acusado de ter planejado a invasão da Rocinha no último domingo. Foi capturado por policiais civis na Ilha do Governador, na Zona Norte, onde estava escondido. Outros quatro suspeitos, supostamente ligados ao bando de Antonio Bonfim Lopes , o Nem, foram presos pela Polícia do Exército quando tentavam entrar na favela de carro depois de sequestrar um táxi. À tarde, em outras ações policiais, três suspeitos foram mortos no Alto da Boa Vista, e outros cinco, presos. O tiroteio feriu um menino de 13 ano, que não corre risco de vida.

 

“O criminoso (Bob) foi preso e não reagiu, ele portava uma pistola, e as armas (dez fuzis apreendidos no Caju, em outra ação) ostentavam o símbolo do traficante Bob (desenho O mundo de Bob) para serem facilmente emprestados e depois devolvidas”, disse o delegado Maurício Mendonça. Ele comandou a operação responsável pela prisão de Moura no Caju na Ilha do Governador.

© Marcos Arcoverde / Estadão

Tensão na Rocinha: Os criminosos chegaram a jogar uma bomba contra policiais, mas o artefato não explodiu

Sequestros na madrugada. O grupo invasor seguiria, segundo a Polícia, ordens de Nem, que, do presídio federal de Rondônia, comandou a invasão da Rocinha, acusam policiais. O objetivo do ataque era tomar o comando do tráfico de drogas na favela de Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, que assumiu o poder depois da prisão de Nem. Embora pertençam ao mesmo grupo criminoso, a facção criminosa Amigo dos Amigos (ADA), Nem e Rogério estão agora em grupos rivais. A quadrilha ligada a Rogério estaria na parte alta da favela, escondida na mata. Lá, on início da tarde, foram ouvidos disparos. Os tiros aconteceram enquanto as autoridades de segurança do Estado davam uma entrevista coletiva, no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), no Centro do Rio.

O tiroteio na madrugada foi intenso. Os criminosos que sequestraram o taxista tentavam entrar na comunidade, mas foram abordados por por policiais militares. Foi quando o confronto com os agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) começou. “Antes de o dia clarear, ouvimos muitos tiros”, afirmou uma moradora da comunidade, que não quis se identificar. “Depois ficou tudo calmo. Mas não saí de casa ainda”.

Outro motorista foi sequestrado na zona sul em seu carro, também com o intuito de furar o bloqueio dos militares. Foi nesse incidente que quatro bandidos foram presos pela Polícia do Exército.

© Marcos Arcoverde / Estadão Ao todo, 950 homens do Exército, da Marinha e da Aeronáutica estão mobilizados, além de dezenas de blindados e helicópteros. Mais três batalhões do Exército.

Dez fuzis apreendidos foram encontrados por policiais civis em um carro Honda Civic no Caju, área dominada pela quadrilha de Bob. Segundo a Polícia Civil, o armamento seria levado para o Morro do São Carlos, na região central da capital fluminense, para criminosos que agiriam na Rocinha. Policiais afirmaram que essas armas, com a marca de Bob, foram usadas na invasão do último domingo. Teriam retornado ao Caju por causa das operações policiais.

Mais cinco fuzis foram encontrados no táxi onde estavam quatro homens que tentavam entrar na Rocinha depois de sequestrar um taxista. Eles fugiram após tiroteio policiais. No carro, também havia 330 munições calibre 7.62 e drogas.

À tarde, o delegado Antonio Ricardo, da 11ª DP (Rocinha) afirmou que um dos ocupantes do táxi seria Rogério 157. Ele teria sido chamado de “pai” pelos demais e dito que era cria da Rocinha e não deixaria a comunidade. O Dique-Denúncia elevou a recompensa por informações que levem ao traficante – de R$ 30 mil para R$ 50 mil.

Um fuzil foi apreendido pela P.E. no carro cujos quatro ocupantes foram presos. Seu motorista fora sequestrado no Jardim Botânico, na zona sul – mesmo bairro onde o taxista foi rendido. No carro também foi achada uma pistola Glock, munições e R$ 2 mil.

Por causa dos tiros, o Túnel Zuzu Angel e o Túnel Acústico Rafael Mascarenhas foram fechados por cerca de uma hora, durante a madrugada.

 

Tiroteio no Alto da Boa Vista. Outros três fuzis foram apreendidos pela PM em dois confrontos na região do Alto da Boa Vista. Neles, três suspeitos morreram e cinco foram presos – um deles ferido. Um adolescente de 13 anos levou dois tiros, mas estava estável no fim da tarde. Foram apreendidas ainda nove granadas e uma quantidade não divulgada de drogas.

Uma mulher que estava em um carro com a família contou detalhes dos incidentes. “Saímos da Tijuca eu, meu marido e meu filho de cinco anos para almoçar com minha irmã na Barra da Tijuca. Estávamos subindo o Alto da Boavista quando carros no sentido oposto começaram a sinalizar para voltarmos e pedestres também corriam na direção oposta”, relatou. “Pelo retrovisor, vimos um carro em alta velocidade passando. Saía fumaça dos pneus. Encostamos atrás de um caminhão e abaixamos dentro do carro porque os três carros de polícia passaram em perseguição, com as armas para fora. Pedestres corriam nas calçadas e entravam nas lojas para se abrigar. Meu filho perguntava o que estava acontecendo, mas eu não conseguia explicar, só o tirei rápido da cadeirinha porque fica mais vulnerável. Os tiros foram a 50 metros de nós. Esperamos o caminhão sair e continuamos parados porque os carros da polícia continuavam no sinal em frente ao colégio Marista São José. Vimos um carro batido com várias marcas de tiros nos vidros dianteiro e traseiro e um policial com um detido sentado na calçada. Logo à frente, montaram uma blitz. Um caminhão do Exército subiu a rua e alguns carros de polícia. Desistimos de ir para a Barra e resolvemos almoçar perto de casa mesmo, num restaurante vegetariano. Foi um sufoco muito grande.”

Enquanto soldados das Forças Armadas mantinham o cerco à Rocinha e policiais agiam no morro em busca de criminosos, a Polícia Militar realizava incursões em pelo menos outras três favelas do Rio. Policiais do Batalhão de Choque fizeram incursões na favela do Turano, na zona Norte, e no Morro da Providência, no Centro, enquanto homens do Batalhão de Operações Especiais (Bope) subiram o Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, na região central.

Na zona sul, PMs da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Vidigal prenderam dois homens na localidade conhecida como Largo do Santinho. Cinco rádios, drogas e outros materiais foram apreendidos.

Clima. Durante toda a manhã de sábado, em meio ao patrulhamento ostensivo dos militares, moradores tentavam retomar a rotina. Mas a movimentação era atípica para o dia, quando o comércio local costuma ser bem mais movimentado. Moradores eram revistados por militares, bem como qualquer carro que chegava à comunidade.

De acordo com o secretário de Segurança do do Rio, Roberto Sá, não há informações sobre uma possível nova invasão na Rocinha. Durante toda a manhã foram feitas buscas nas matas do alto da comunidade, onde traficantes estariam escondidos.

“Com o contingente que temos lá, hoje mantemos a situação estável”, afirmou. “Vamos continuar buscando (criminosos) na mata.”

Sá negou que tenham sido expedidos mandados coletivos de busca e apreensão para serem cumpridos na favela. Esses instrumentos permitem que quarteirões inteiros sejam vasculhados pela Polícia, sem endereços especificamente determinados, e são criticados por advogados e defensores de direitos humanos. Eles afirmam que esse tipo de documento, de acordo com a lei, deve ter destino específico, para evitar excessos. O secretário, porém, não descartou a adoção da medida.

“A peça está sendo avaliada, mas não foi entregue até o momento, o balanço que faço é que foi um trabalho muito bom em conjunto com as Forças Armadas”, disse.

O secretário fez um apelo aos moradores da favela: “A comunidade é que detém essa oportunidade de contribuir para que esse trabalho se perpetue no tempo. Eles [os moradores] são as pessoas que podem nos ajudar a limpar por um longo tempo a comunidade”. Não há prazo para a retirada das tropas.

“Se eu pudesse fazer um pedido? Moradores da Rocinha, denunciem!”, afirmou. “Com a chegada das Forças Armadas para fazer o cerco, liberamos patrulhinhas para aumentar a proteção nos bairros no entorno”, revelou. “”O fato é que esse território (Rocinha) é altamente lucrativo, mas nesse momento o local está lotado de segurança, não devem tentar de novo.”

/Estadão Conteúdo

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