Em um caderninho com capa do Pato Donald, Júlio Santana escreveu seu currículo: os registros de 492 assassinatos cometidos em mais de 20 anos de experiência como matador de aluguel. Nesse tempo, ficou preso só por uma noite.
Sua história é contada no filme “O nome da morte”, com o galã Marco Pigossi no papel principal. A trama chega nesta quinta-feira (2) aos cinemas, mais interessada em mostrar o coração do pistoleiro do que discutir por que ele nunca cumpriu pena – e continua solto.
“Em nenhum momento estamos justificando ou desculpando um matador. Queremos compreender o ambiente em que isso aconteceu.”
A explicação acima é do próprio Pigossi, em sua estreia nos cinemas após nove novelas – a última foi “A força do querer”. Ele pinta um retrato quase ingênuo de Júlio, que vira matador ao se deixar levar pela manipulação do tio Cícero (André Mattos).
O ator define seu protagonista como “vítima da falta de cultura e educação” no país. “A educação como formação e a cultura como independência de pensamento, para que a pessoa consiga agir sem ser massa de manobra”, analisa.
“A vida de Júlio é fruto de suas escolhas. Mas, por outro lado, elas são fruto das escolhas de uma sociedade”, acrescenta o diretor Henrique Goldman, experiente em transformar casos reais em ficção. É dele “Jean Charles” (2009), sobre o brasileiro morto pela polícia de Londres em 2005.
O que é real?
Para construir “O nome da morte”, ele e o roteirista George Moura (“Linha de passe”) se basearam no livro homônimo do jornalista Klester Cavalcanti, que passou sete anos em contato com o pistoleiro para escrever a história.
Alguns fatos da trajetória real foram suprimidos, como o período em que Júlio trabalhou para o Exército na região do Araguaia, nos anos 1970. Outros foram modificados, como a morte de seu filho – mais velho do que o retratado no filme.
Mas a “essência” do matador, frio no ofício mas amoroso e dedicado à família, está lá, dizem Goldman e Cavalcanti. O diretor afirma:”É tudo real, e tudo fictício. Há uma relação descompromissada com a realidade objetiva, mas um compromisso claro de tentar entender como um pistoleiro vive, e como se sente no seu íntimo, na sua alma.”
Para ele, “existe um Júlio Santana latente dentro de cada um”, que pode se manifestar a depender das condições. E, por causa disso, a história se passa no “limiar entre a responsabilidade da sociedade e do indivíduo”. “O filme retrata a terra de ninguém entre essas duas dimensões.”Com informações do G1.
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