O médico Felipe Neri que prestou serviço como clínico geral ao Hospital Municipal Dr. Eduardo Ribeiro Bahiana disse ao Bahia Manchetes que o prefeito de Madre de Deus, Jailton Polícia (PTB), foi pessoalmente na unidade com o Secretário Municipal de Saúde, Markus Santil, para garantir que o pagamento dos profissionais seria realizado.
“Mesmo assim não foi feito. E aí depois, fala pra gente que a prefeitura não tem nada ver com isso, que quem é o contratante é a empresa. Só que a empresa, é a empresa que eles escolhem, quem contrata a gente são eles e terceirizam o nosso pagamento pra outra empresa [sic]”, afirma, ressaltando que ficou sem receber o salário por pouco mais de dois meses.
Ele relata que o chefe do Executivo fez uma reunião destacando que iria segurar o repasse do Instituto de Gestão Saúde e Tecnologia (IGST) que administrava o hospital para pagar o vencimento dos colaboradores.
O médico acrescenta que o gestor pediu que todos continuassem trabalhando, e que, não fizessem paralisação já que a categoria se organizava junto ao sindicato.
“Entramos nessa do prefeito novo de acreditar, de continuar trabalhando e depois não foi cumprido o acordo. A maioria da galera saiu do trabalho e está aí até hoje sem receber”, disse o médico, apontando que deixou o hospital porque precisa trabalhar e receber pelo serviço.
Segundo o profissional, o prefeito Jailton deveria honrar a palavra: “Político só promete, eles não entregam documento pra gente, mas eles precisam cumprir com o que promete, pelo menos um pouco, todo mundo tem família”.
Ele descreve o município como um “lugar desgastante” para trabalhar, ressaltando a redução na equipe médica. Para o Dr. Felipe, existem colaboradores da cidade que sofrem muito mais, por não ter outra opção, acabam sendo escravizados pela prefeitura.
“Fica mais absurdo ainda o povo deles sem receber, pessoa que ganha um salário mínimo por mês, tá há dois meses sem receber, fazer um acordo de mil reais e não pagar insalubridade. Também é mais absurdo porque não quer pagar dois salários”, asseverou.
Ele completa reforçando que não foram apenas os médicos que levaram “calote” na unidade, citando que todos os profissionais de saúde que prestaram serviço foram prejudicados.
“Madre de Deus é uma cidade de pessoas maravilhosas, só que a gestão daí, ela é deficiente, e é deficiente faz tempo”, afirma.
De acordo com Dr. Felipe, a administração municipal deixa a desejar em tudo: “Não pagaram ao pessoal do Covid, médico da unidade tem que sair pra receber seu teste de Covid, não paga insalubridade, não respeita ninguém, não dá uma condição de trabalho.”
Ainda conforme o médico, o poder Executivo não tem “nenhuma ação é só conversa, pra enrolar, vai ganhando um dia atrás do outro.”
Ele disse que espera que o prefeito Jailton tenha respeito pela população e pelos funcionários de todas as classes, principalmente, os que recebem salário mínimo. Em seguida, foi enfático ao afirmar que “nunca mais” volta a trabalhar na cidade, mesmo que os salários atrasados sejam pagos.
“Imagina em plena pandemia todo mundo tenso, saindo de casa dando a cara a tapa e não receber”, lamenta.
Dr. Felipe afirma que os médicos não querem trabalhar na cidade porque a categoria é tratada como “Severino” em referência ao personagem da TV que servia como um quebrava galho.
“Chego lá pra atender [como] pediatra, o clínico não vai, eu atendo pediatria e clínica médica. O obstetra não vai, quer que você veja gestante, o cirurgião não vai, quer que faça sutura, é assim que funciona. Põe a pessoa pra ser Severino. Não respeita a população, não tá nem aí pra população”, disse, acrescentando que dúvida que o gestor não procure atendimento particular caso tenha necessidade.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de comunicação da prefeitura as 11h45 desta segunda-feira (24), mas não obteve resposta.
Essa não é a primeira vez que a administração municipal promete, e não consegue pagar os profissionais de saúde.
O ex-diretor médico do hospital, Dr. Vinícius Araújo, disse ao Bahia Manchetes que trabalhou na unidade durante a gestão da Associação de Proteção a Maternidade e a Infância de Castro Alves (Apmi), quando Jeferson Andrade estava a frente do Executivo.
Segundo ele, os atrasos no pagamento eram frentes no hospital e a empresa usava várias desculpas.
“Colocaram uma cooperativa e falaram que pela cooperativa era melhor, e a cooperativa já é uma outra empresa. Não sei porque o interesse de colocar essa cooperativa aí. Porque a cooperativa não trouxe nenhum benefício para o hospital, na verdade, o benefício não sei pra quem era”, disse.
Ainda conforme Dr. Vinícius, quando chegou o mês de novembro, estavam devendo dois meses de salários, “provavelmente eu não ficaria por conta dos atrasos”.
Ele conta que alguns médicos disseram na época que iriam deixar a unidade porque sem ele não teriam a garantia de receber.
O ex-diretor médico elenca que também prestava serviço como clínico geral, e com a pós-graduado em pediatria atendia crianças e dava suporte aos pacientes internados na enfermaria.
“No mês de dezembro fizeram a promessa, falaram assim: ‘não doutor não saia, esse mês agora porque nós vamos te pagar o mês de dezembro e novembro pro senhor”, disse.
Dr. Vinícius aponta que mais uma vez confiou na palavra e cita a bíblia: “Maldito o homem que confia no outro homem. Mas lá vou eu confiar novamente, dá um voto de confiança aí fiquei”.
Paro o médico, a prefeitura temia ficar sem profissionais de saúde durante as festas de final de ano ao definir a situação como um “caos” na saúde.
“Quando aconteceram os atrasos, e que houve a notícia que iria haver demissão em massa a prefeitura se articulou e na pessoa do senhor Igor [Oliveira, ex-secretário interino de saúde]. Ele rapidamente foi ao hospital para tranquilizar todos os médicos que tinham dívidas em atraso com a Apmi”, disse.
O ex-diretor firmou que o ex-secretário Igor prometeu que os pagamentos dos médicos seriam feitos: “Fiquem tranquilos que quem vai pagar é a prefeitura, nós estamos vendo um meio legal pra fazer isso. Nós vamos reter o repasse que tem pra ser feito Apmi, nós não vamos pagar a Apmi e vamos pagar a vocês mesmo, vamos pagar a todos os médicos”.
Dr. Vinícius disse ainda que a administração não cumpriu com a promessa e os médicos ficaram sem receber.
“A gestão da prefeitura é uma gestão que não paga, que não tem compromisso com o profissional”,afirma.
Ele destaca que como reflexo disso, os médicos tem medo de trabalhar na cidade quando ficam sabendo que existe risco de levar calote.
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