O artista plástico Manoel Arnaldo dos Santos Filho, morto no sábado (20) em ação da Polícia Militar, dentro da casa que morava e que usava como ateliê de pintura, era querido por familiares, amigos e pelos moradores de Candeias, cidade na região metropolitana de Salvador. A população fez um protesto nesta segunda-feira (23) para pedir justiça pelo crime. O caso é apurado pela Corregegoria da PM.
Uma das três filhas do artista, Maraisa Marinho, lembra que ele admirava o trabalho de policiais e sempre ensinava aos filhos a respeitar a PM. Manoel também era pai de um rapaz.
“Painho nunca fez nada de errado. Era tão honesto que já tava tudo pago, o enterro dele estava pago. Meu pai sempre ensinou que a gente tinha que respeitar a polícia, porque a polícia era para defender a gente. Foi a polícia que tirou a vida dele. O pior é que ele estava dentro de casa. Eu fico pensando no que meu pai pensou na hora, recebendo o tiro e pensando: ‘o que eu fiz?'”, lamenta Maraisa, muito emocionada.
“Acabaram com a vida de meu pai, sem motivo nenhum. Você está em casa e a polícia entra, não diz nada e te mata”, afirma a filha. Ela contesta a versão policial de que o pai teria aberto a janela e disparado com um revólver, que teria falhado. “Meu pai nunca seria capaz de ter uma arma”, sustenta.
Maraisa mora há três meses em São Paulo, porque tem uma doença na córnea e acabou de fazer uma cirurgia. Ela conta que o pai mobilizou a cidade e vendeu quadros para arrecadar dinheiro para ajudar ela a fazer a cirurgia.
A família, que sempre foi unida, agora quer provar que o artista estava desarmado, dentro da casa dele, e pintava quadros quando foi morto. Antes do protesto desta segunda-feira, familiares e amigos se reuniram em uma caminhada e na missa de corpo presente no domingo (22).
“Só o que precisamos é Justiça. Enquanto isso, estamos vivendo esse luto”, diz a sobrinha do artista, Gleice Dias, que se emociona ao lembrar da honestidade do tio.
“Sempre fomos criados com honestidade, respeito ao próximo, amor. Essa manifestação mostra isso. Teve uma multidão no domingo. Se fosse uma pessoa ruim, será que tantas pessoas estariam aqui? Não estariam. Então, ele é inexplicável. Uma pessoa muito honesta, brincalhão. Se você precisasse dele, ele estaria ali para ajudar”, conta.
Gleice revela a saudade que fica com a morte de Arnaldo. “Eu perdi meu pai há três anos, e meu tio é meu pai. Além de ser meu tio, era meu padrinho, meu amigo, meu tudo. Ele e minha mãe eram como se fossem gêmeos, unha e carne. Nós somos muito unidos mesmo. Estávamos marcando uma viagem para a casa de parentes, mas aconteceu essa fatalidade”, lamenta.
Nadinho nasceu em Salvador e viveu, desde criança, na mesma casa onde foi morto, em Candeias. Arnaldo dava aula de artes, pintava quadros e fazia artesanato para garantir o sustento. A casa humilde de quadro cômodos, na Travessa 31 de março, foi onde ele criou os quatro filhos e, depois que se mudaram, ele passou a usar como ateliê, para pintar e dar aulas.
Após a ação dos policiais, os familiares contam que um dos tiros teria atingido a porta de entrada. A família encontrou ele morto no posto de saúde da cidade, depois que foi levado pela PM.
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