Atrás dos muros do Complexo Penitenciário da Mata Escura, em Salvador, 12 casais oficializaram a união em um casamento coletivo, realizado na manhã desta sexta-feira (27). A cerimônia para os noivos e familiares, viabilizada pela Defensoria Pública do Estado da Bahia (DPE-BA), aconteceu na Escola da Penitenciária Lemos Brito.
Todos os noivos cumprem pena no complexo, e mesmo com a restrição de liberdade, têm direito de celebrar o casamento, segundo a Lei de Execução Penal. As noivas são mulheres que, apesar de estarem do outro lado do complexo, por amor aos seus parceiros, resolveram enfrentar as dificuldades de ter um marido que vive atrás das grades.
Uma delas é Maria Lindinalva Santana de Jesus, que ganhou uma declaração de amor em forma de música cantada no altar pelo interno Ivanildo Ferreira Oliveira de Jesus. Ela era amiga da família de Ivanildo e foi apresentada a ele pela mãe do detento. No primeiro dia em que se encontraram, em visita na cadeia, ele já pediu Maria em casamento.
Ivanildo diz que o matrimônio é a realização de um dos seus grandes sonhos. “Eu já venci, já me formei com o 3º ano [do Ensino Médio]. Agora me casei e meu terceiro sonho é alcançar a liberdade”, sonha.
Ele cumpre pena por sequestro, formação de quadrilha e porte de arma. Em abril do próximo ano, completa oito anos atrás das grades – pequena parte de uma longa sentença de 53 anos. Ainda assim, Ivanildo almeja curtir a união com Maria Lindinalva em liberdade. “Estou esperando por isso e estou trabalhando na oficina daqui”, afirma.
A mulher de Ivanildo diz que o casamento também sempre foi um sonho para ela e agradece a Deus pela conquista. “Eu me sinto realizada, porque é um sonho para mim casar. Nunca pensei que meu casamento fosse em um lugar desse, não foi a oportunidade que eu quis, mas foi a que o Senhor quis”, afirma.
Para entrar nos presídios, as mulheres dos internos costumam chegar no dia anterior das visitas e dormem na porta do complexo penitenciário às quintas-feiras. Elas passam por revista e, muitas vezes precisam dividir os alimentos que têm em casa para trazer para os internos.
A defensora pública Fabíola Pacheco Lima, que atua no presídio junto com o defensor Nelson Alves, afirma que o casamento é um dos instrumentos de socialização dos internos, que muitas vezes vêm de uma estrutura familiar frágil. “Família é uma coisa muito importante. O único apoiador que eles têm é a família, porque a sociedade não apoia. O casamento para eles é muito importante”, pontua Fabíola.
Atravessar até 700 km não foi obstáculo para outra noiva, que preferiu não se identificar. Ela viaja a casa 15 dias de João Pessoa (PB) para Salvador para ver o companheiro, que agora é seu marido. Ela já conhecia ele antes da cadeia, mas voltou ao relacionamento depois que ele estava atrás das grades.
“Venho a cada 15 dias de João Pessoa para cá. Eu visito e vou embora, chego na quinta e volto na segunda. A gente ficava antes, mas não era anda sério. Depois que ele foi preso, a mãe dele me contatou e ele quis que eu viesse. A nossa relação é tranquilíssima, só estou esperando o momento de ele sair da prisão. Ele está aguardando a sentença, tem dois anos e pouco preso. Ele vai sair e não vai voltar. Casado comigo ele não vai voltar para cá”, contou. Com informações do G1.
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