Os filiados do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) aprovaram a formação de uma nova coalizão de governo com a União Democrata Cristã (CDU), partido da chanceler federal Angela Merkel, e a União Social Cristã (CSU), anunciou o partido neste domingo (04/03), em Berlim.
O “sim” venceu com ampla maioria, com 66% dos votos válidos, o que corresponde a 238 mil votos. Outros 123 mil filiados votaram “não”. No total, 378 mil pessoas fizeram uso do seu direito de voto, o que equivale a uma participação de 78,4%. No total, 463 mil filiados estavam habilitados a votar.
O anúncio foi feito após um processo de consulta aos filiados, que tiveram duas semanas para informar, por carta, se aceitavam ou não o acordo de coalizão fechado pela liderança do partido com os líderes da CDU e da CSU. A votação se encerrou na sexta-feira, e o resultado foi divulgado neste domingo na sede do SPD, em Berlim.
Merkel deverá ser eleita para um quarto mandato em 14 de março. Dois dias antes, o SPD deverá anunciar os nomes dos seus ministérios no governo, o que inclui os poderosos ministérios das Finanças e do Exterior. O vice-chanceler deverá ser o presidente interino da legenda, Olaf Scholz, que também deverá ocupar a pasta das Finanças.
Com a formação de uma nova coalizão entre CDU/CSU e SPD, o partido populista Alternativa para a Alemanha (AfD) passa a ser a maior bancada da oposição no Bundestag (Parlamento).
Fim da indefinição
Esta é a terceira vez que o SPD participa de uma coalizão de governo como parceiro minoritário num governo comandado por Merkel. As duas coalizões anteriores foram as das legislaturas de 2005 a 2009 e de 2013 até 2017, que continua no poder interinamente. Entre 2009 e 2013, Merkel governou com o Partido Liberal.
A Alemanha nunca ficou tanto tempo sem governo após uma eleição parlamentar. Depois do resultado do pleito de setembro, Merkel tentou inicialmente formar uma coalizão “Jamaica” com os liberais e o Partido Verde, mas as negociações fracassaram. Ela então se voltou para os social-democratas, que, já na noite da eleição de setembro, haviam anunciado que iriam para a oposição e não participariam de um quarto governo de Merkel.
A posterior mudança de rumo da liderança do SPD não foi bem recebida pela base, que preferia o caminho da oposição, e gerou um amplo debate interno. Principalmente a Juventude Socialista (Juso), liderada por Kevin Kühnert, posicionou-se contra o ingresso na coalizão de governo. Em meio às discussões, o SPD experimentou uma onda de adesões: 24 mil pessoas se filiaram ao partido em poucos dias. O debate interno se encerrou neste domingo, com a divulgação do resultado da consulta aos filiados.
Ascensão e queda de Martin Schulz
O processo foi marcado também pela ascensão e queda do ex-presidente do Parlamento Europeu Martin Schulz no comando do SPD. Inicialmente saudado pelos social-democratas como esperança de renovação e como o candidato certo para derrotar Merkel nas urnas, Schulz acabou conduzindo o partido para o seu pior resultado no pós-Guerra, com apenas 20,5% dos votos.
Derrotado, Schulz optou, já na noite da eleição, pela oposição, anunciando que não integraria de jeito nenhum um novo governo Merkel. Com o fracasso das negociações para a coalizão “Jamaica”, viu-se forçado a mudar de opinião e passou a defender o ingresso do partido no governo. Bem-sucedido nas negociações com CDU e CSU, reivindicou para si o Ministério do Exterior, na prática o segundo cargo mais importante do governo alemão.
Só que, ao fazer isso, Schulz bateu de frente com o atual ministro, Sigmar Gabriel, que gostaria de permanecer no cargo. A manobra não foi bem recebida dentro do partido e o levou à renúncia como presidente da legenda.
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