Entenda por que projeto de lei pretende acabar com Funk no Brasil

Proposta teve mais de 20 mil assinaturas e foi encaminhada ao Congresso.

Baile funk no Rio de Janeiro (Foto: Adamo Granato Franco)

Uma sugestão legislativa que propõe o fim do funk no Brasil tramita no Congresso Nacional desde o início do mês de maio. A polêmica ideia de acabar em definitivo com atividades relacionadas ao ritmo musical é de autoria do microempresário Marcelo Alonso, de 46 anos, um web designer paulistano que considera o estilo musical um “lixo”. A proposta dele teve 21.985 assinaturas de apoio.

Marcelo também é administrador da página “Funk é lixo”, que tem mais de 140 mil seguidores no Facebook.

Os pancadões foram um dos principais motivos que levaram o web designer Marcelo Alonso a apresentar a nova proposta que pretende criminalizar o funk. Três desses eventos ocorrem com frequência em seu bairro – que não revela “por segurança”. Ele diz que já foi ameaçado depois que apresentou o tema ao Senado.

Outro motivo, diz, são os chamados “proibidões”, que têm letras pornográficas e fazem apologia ao crime. “O funk foi por um caminho esquisito, de sexo precoce, pedindo para que as pessoas matem policiais”, diz Marcelo. “Funk é um crime de saúde pública. Como você pode olhar para a sua mãe quando, ao lado, está tocando uma música que fala de colocar a piroca na cara dela, na bunda dela”, diz

Pancadão Baile Funk ( Foto:Reprodução)

Por enquanto, o projeto não detalha o que exatamente seria proibido, quem seria punido ou como seria a punição.

A proposta diz apenas: “É fato e de conhecimento dos brasileiros, difundido inclusive por diversos veículos de comunicação de mídia e internet com conteúdos podre (sic) alertando a população o poder público do crime contra a criança, o menor adolescente e a família. Crime de saúde pública desta ‘falsa cultura’ denominada funk”.

Depois do parecer de Romário, o texto deve passar por comissões no Congresso e pode ir à votação na Câmara e em seguida no Senado.

Outro lado 

A possível criminalização do funk vem causando polêmica. Adeptos da música dizem que, apesar de o ritmo ser um dos mais tocados no país, ainda sofre repressão e preconceito.

Especialistas afirmam que a proposta legislativa lembra perseguições sofridas por ritmos e manifestações surgidas dentro da comunidade negra, como o samba, a capoeira e o rap.

“Esse retrato do funk como coisa de vagabundo e criminoso não é arbitrário”, explica Danilo Cymrot, doutor em criminologia pela USP. “Existem outras manifestações que foram perseguidas por serem ligadas a negros, pobres e moradores do subúrbio. Sambistas eram associados à vadiagem, eram chamados de vagabundos. Muitos foram presos.”

Para o pesquisador Cymrot, o funk começou a ser visto com maus olhos em 1992, depois de um suposto arrastão nas praias de Ipanema, Copacabana e Arpoador, no Rio. Jovens de dois morros se encontraram e realizaram uma espécie de “coreografia da violência”. “Foi algo parecido com um bate-cabeça de shows punk. A intenção não era assaltar ninguém, mas foi a imagem que ficou”, diz o pesquisador.

“No Brasil, as pessoas ficam tensas quando um grupo de jovens negros chega na praia, ou quando se reúne em qualquer lugar. As pessoas se assustaram com essa imagem”, explica Cymrot, sobre o motivo de aglomerações como os bailes serem malvistas.

Fabio Luis de Jesus, de 37 anos, conhecido como MC Koringa, foi um dos funkeiros que mais criticaram a proposta. “Você não pode criminalizar um ritmo por causa de uma única vertente”, diz. “O proibidão nada mais é do que uma realidade que se vê nas ruas. Se você não quer que as pessoas cantem sobre crimes, dê condições de vida melhor para elas”, diz.

O cantor carioca tem 21 anos de carreira e suas músicas já foram trilha de novelas da Globo. “Se o funk fosse esse monstro, não haveria tanto espaço para ele na televisão”, diz.

O funkeiro e o webdesigner Marcelo foram convidados pelo senador Romário para uma audiência pública que vai debater o tema. Outros cantores conhecidos, como Bochecha e Valesca Popuzuda, também foram chamados. “É claro que vou à audiência”, diz Marcelo. “Tenho de colocar esses funkeiros no lugar deles.” Com informações da BBC Brasil.

Os pancadões são bailes funk que ocupam ruas e avenidas da periferia de São Paulo (JARDIEL CARVALHO/R.U.A FOTO COLETIVO)

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*