Homem acusado de estupro e tortura em Camaçari deve responder por cerca de 10 crimes, diz MP

Mãe e irmã da jovem também são vítimas do suspeito; criança tem seis anos e é filha do denunciado.

Thiago Oliveira Alves foi acusado pela enteada de estupro e tortura contra ela e a mãe — Foto: Reprodução/Redes sociais

O homem que foi acusado pela enteada Eva Luana da Silva, de 21 anos, por estupro e tortura, no município de Camaçari, na região metropolitana de Salvador, deve responder por cerca de 10 crimes, de acordo com o Ministério Público da Bahia (MP-BA).

Até esta sexta-feira (22), Thiago Oliveira Alves, natural de São Paulo, não havia apresentado defesa à Justiça. Segundo o MP-BA, ele tem até o sábado (23), para apresentar um advogado. Caso não haja representação, um juiz que acompanha o caso deve decretar que a defesa dele seja feita por um defensor público.

A mãe de Eva e a irmã dela, uma criança de seis anos que é filha do suspeito, também constam como vítimas no processo. O MP-BA informou que não pode detalhar por quais crimes o réu vai responder, porque o processo corre em segredo de Justiça. No entanto, a promotoria disse que, com relação a Eva, ele foi indiciado por pelo menos seis crimes.

As informações foram passadas pelo MP-BA na tarde desta sexta-feira (22), em coletiva de imprensa com as promotoras de Justiça Anna Karina Senna e Márcia Teixeira, que é coordenadora do Centro de Defesa dos Direitos Humanos.

A promotora Anna Karina Senna detalhou ainda que parte dos crimes foi identificada pela delegada responsável pelo caso, e outra parte for anexada ao processo pelo próprio Ministério Público, a partir dos relatos e depoimentos de Eva. Segundo a Polícia Civil, ele já foi indiciado por estupro e tortura, mas nega as acusações.

A promotora Anna Karina falou sobre a importância da denúncia pública de Eva: “É louvável a atitude dela, porque dá voz a milhares de vítimas que têm receio de denunciar”, avaliou ela.

Eva já havia prestado queixa contra o padrasto quando tinha 13 anos e que foi obrigada a retirar por conta de ameaças do suspeito. Os laudos de exame de corpo de delito feitos na época também devem ser anexados ao processo.

Além dos cerca de 10 crimes listados no processo, Thiago deverá responder também por crimes contra a vida, a partir dos relatos de aborto da jovem. O MP-BA disse que esses crimes fazem parte de um processo separado, porque serão julgados por outra vara. De acordo com a promotora Anna Karina, a medida de separação foi tomada para que o caso tenha julgamento rápido.

Ele está detido no Centro de Observação Penal de Salvador, que fica no Complexo Penitenciário da Mata Escura, no bairro de mesmo nome, em Salvador. Não há informações se ele está em uma cela separada dos outros detentos.

O suspeito também foi exonerado do cargo de assessor técnico da prefeitura de Camaçari. A exoneração dele foi publicada no Diário Oficial do Município na quinta-feira (22).

Ele já tinha deixado a posição desde 1º de fevereiro, dois dias depois da enteada ter denunciado novamente o caso à Polícia Civil, mas a oficialização da exoneração no Diário pela prefeitura só saiu na quinta. A administração da cidade divulgou nota de repúdio a Thiago na quarta (20).

Caso

A jovem Eva Luana da Silva usou as redes sociais, nesta semana, para revelar os casos de abuso e tortura sofridos por ela e a mãe, pelo padrasto, durante quase 10 anos. A estudante de direito fez o relato após denunciar o caso á polícia e o suspeito ser preso. “Tinha vezes que chegava a ser estuprada duas vezes no dia”, disse.

Na ocasião, a jovem revelou que ainda sente medo, mesmo após prisão de Thiago Oliveira Alves. “Não tenho como dizer o que foi mais terrível, porque tudo foi muito ruim. No entanto, os abusos e os estupros foram mais fortes. As torturas que sofri mexeram muito comigo, com o meu psicológico. Em determinadas ocasiões, passava um dia inteiro sendo torturada”, destacou.

Como resultado dos estupros cometidos pelo padrasto desde que ela tinha 12 anos, a jovem disse que fez vários abortos. “Foram quatro ou cinco vezes”, lembra.

Eva levou o caso a público após relatar em cinco posts no Instagram toda a violência pela qual foi submetida dentro da própria casa. Ela conta que a mãe era constantemente vítima do companheiro e que, depois, passou a ser alvo dele também. Artistas como Kéfera e Alice Wegmann compartilharam as postagens da estudante.

A delegada Florisbela Rodrigues, titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) de Camaçari, que apura o crime, confirmou que a jovem prestou depoimento no dia 30 de janeiro. A mãe dela também falou com a polícia e confirmou as denúncias da filha.

No dia 31 de janeiro, após Eva ter feito a denúncia, a Justiça concedeu uma medida protetiva para que Thiago não se aproximasse dela e nem da mãe e da irmã. O homem, então, foi obrigado a sair de casa e alugar um imóvel para morar.

Ela conta, no entanto, que, antes de ser preso, ele descumpriu a medida que o obrigava a ficar distante das vítimas por no mínimo, 300 metros. A jovem disse que ele foi até a casa dela e destruiu provas, antes do cumprimento de um mandado de busca e apreensão.

Eva, que já tinha prestado uma queixa contra o padrasto quando tinha 13 anos e que foi obrigada a retirar por conta de ameaças do suspeito, diz que ainda confia na Justiça. “Acredito totalmente e creio que ele pagará por tudo. Também tenho orgulho das pessoas que estão comigo, me ajudando”, diz.

A advogada de Eva, Maria Cristina Carneiro, que já foi sua professora, diz que a defesa está fazendo recolhimento da provas e ouvindo testemunhas para reforçar as denúncias de Eva. “Ele ficou acompanhando o inquérito e teve notícia de que haveria uma busca e apreensão na casa onde morava com a família. Foi lá antes e destruiu provas, quebrou celular, chip. Inclusive, ele trocou o segredo da fechadura”, destacou.

/Via G1

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